A portuguesa campeã da Liga Norte-americana de Basquetebol feminina (WNBA), Patrícia Penicheiro, começou a sua carreira na década de 80, no mini-basquete masculino do Ginásio Figueirense, Figueira da Foz.
"Comecei com o meu pai a jogar com os rapazes", disse à Agência Lusa a jogadora, mais conhecida por Ticha Penicheiro, relembrando a época de 1984, quando, aos 11 anos, começou a dar os primeiros passos no basquetebol do Ginásio Figueirense.
O pai, João, hoje com 65 anos, antigo jogador e durante cerca de 30 anos, "embora com algumas interrupções", ligado, como treinador, à modalidade, recorda que o clube não possuía, na altura, equipas de mini-basquetebol feminino.
"Era a única rapariga no mini-basquete, teve de integrar a equipa masculina", sublinhou.
Jogar numa equipa masculina não atemorizou a atleta: "Nunca tive receio, sempre me dei bem com os rapazes", confessou Ticha Penicheiro.
Assim, acabou por seguir os passos do pai e do irmão, Paulo, pelo gosto em praticar basquetebol.
"Foi o gosto que me levou para o basquetebol. O meu pai e irmão começaram, se calhar, se eles praticassem outro desporto qualquer, hoje seria esse que eu praticava", sustentou.
Os oito anos que passou no Ginásio Figueirense, onde percorreu todas as categorias, entre 1984 e 1992, até chegar a sénior, classifica-os como "muito importantes".
"É como ter uma boa escola primária. É onde aprendemos os primeiros passos, a lançar as primeiras bolas ao cesto. Tive bons treinadores e boas colegas de equipa. O Ginásio foi sempre um bom clube para mim, foi o primeiro, terá sempre um lugar especial no meu coração", afirmou.
Além do ambiente dentro do clube - campeão nacional de seniores masculinos na época de 76/77, facto que, segundo João Penicheiro ajudou à "explosão" do basquetebol da Figueira da Foz -, Ticha destaca a própria cidade onde, nas décadas de 80 e 90, o basquetebol de rua estava no auge.
Ao início existiam dois campos, ao ar livre, alcatroados e sem marcações, um dos quais, nas traseiras dos prédios junto ao parque das Abadias, albergava dezenas de jogadores, federados ou simples curiosos da modalidade.
O recinto era conhecido "porque muita gente que jogava nos campeonatos profissionais aparecia para jogar", frisou Ticha Penicheiro.
"Eu também tive a sorte de aquele ser mesmo ao lado de minha casa. Jogávamos muito, por vezes era difícil, era tanta gente que o sol punha-se e havia quem ainda não tivesse jogado", lembrou.
Os jogos de rua acabavam por se tornar "um vício e um ritual", especialmente nos meses de Verão, quando os campeonatos paravam:
"Durante todo o Verão, depois da praia, era para onde íamos jogar".
Em 1992, já depois de ter sido chamada, pela primeira vez, à selecção nacional, enquanto cadete, Ticha Penicheiro transferiu-se para a União Desportiva de Santarém, onde se manteve dois anos e venceu o campeonato nacional, a Taça de Portugal e a Supertaça.
Em 1994, começou a aventura norte-americana na Universidade de Old Dominion (estado da Virgínia, na costa leste dos Estados Unidos), conjugando a prática de basquetebol com o curso de Comunicação Social.
Volta a destacar o pai, que sempre a incentivou "a trabalhar com força e a treinar bem" e o apoio da família na decisão em sair de Portugal para os Estados Unidos.
"Foi o sonho de querer ser melhor. Os Estados Unidos são um país onde se respira basquetebol. Se não tivesse ido nunca teria chegado onde cheguei", realçou.
Quatro anos depois, mudou-se para a Califórnia, para a equipa das Sacramento Monarchs, onde se mantém há oito épocas, tendo este ano alcançado o título de campeã da WNBA, a liga feminina norte-americana de basquetebol.
Nas épocas de defeso do campeonato, Ticha Penicheiro joga em vários países, nomeadamente europeus, tendo alcançado títulos nacionais em França e na Polónia.
No entanto, um regresso a Portugal está, para já, aos 31 anos, posto de parte: "Aqui tenho família e amigos, mas os Estados Unidos, não é segredo para ninguém, é o país das oportunidades. É mais fácil arranjar emprego e as pessoas dão-nos valor. Neste momento está à frente de Portugal na corrida", sublinhou.
Ticha Penicheiro é esta noite homenageada, na Figueira da Foz, nas instalações do Ginásio Figueirense, pelo Governo, recebendo das mãos do secretário de Estado da Juventude e Desporto, Laurentino Dias, a medalha de mérito desportivo.
Será a segunda condecoração entregue à atleta pelo Estado português, depois de, em 1999, em Leiria, o Presidente da República, Jorge Sampaio, a ter agraciado com o grau de oficial da Ordem do Infante D. Henrique, nas comemorações do Dia Internacional da Mulher.
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